19 de mai. de 2010

TESTEMUNHA OCULAR. Aldeia em baixo d'água. Sem fotos. Só Fatos

A noite desta terça-feira, 18/05, vai ficar marcada na mente de muitas pessoas, principalmente na nossa. Testemunha que fomos de uma enxurrada que alagou totalmente o Campo D'Una, a Aldeia e todas as casas e terrenos em seu entorno, inslusive a casa de meus sogros, onde resido com minha esposa e filha de 1 ano e 10 meses.

Incapazes de conter a água que subia cada vez mais, por volta das 22:15h, sem saber o que fazer ligamos para os bombeiros, e ouvimos que eles também não podiam fazer nada. Nos disseram para levantar o que pudéssemos dentro de casa e aguardar, caso álguem estivesse mal, que ligássemos de novo.

Aos poucos começamos a ouvir pessoas gritando, desesperadas que a água já havia entrado em suas casas. Moradores atordoados começaram a sair para a SC 434, sem saber o que fazer.

Mudamos de roupa,a água estava a 10 cm de entrar em casa. Colocamos nossa armadura para chuva: Bermuda e Camiseta. Impotentes, nos armamos de enchada e lanterna e passamos a tentar desentupir canos, abrir valos para a água desviar, dar vazão para outro lado. Passamos a rezar e pedir à Deus para que a chuva parasse.

Nestas horas a solidariedade impera, logo nos perguntavam se queríamos ajuda para levantar os móveis, ajuda para abrir os valos. Enfim, ajuda.

As vezes mal conversamos com nossos vizinhos, a correria do dia dia, passa por um bom dia, boa tarde. É muito bom saber que temos com quem contar nas horas mais que difíceis.

A chuva não dava trégua, ensopados, já não sentíamos frio, mas continuavámos com a enchada em punho, pronto para a guerra contra a enxurrada. Fomos ao encontro dos outros moradores para ver o que poderíamos fazer.

Logo apareceu o problema. Em frente ao eterno posto de combustível fechado na SC 434, e ao lado da parada de ônibus sentido Aldeia / Centro, os canos destinados à dar vazão as águas, estavam impedidos por uma barreira de concreto.

Não sei quem localizou o problema, mas desde já é um amigo, um abnegado e lutador. Como uma falange espartana nos deslocamos para o tal bueiro, boca de lobo, não sei que nome dar, mas era um cano que tinha por finalidade dar vazão à água, mas que estava impedindo o deslocamento dela. Tentamos quebrar com enchadas, impossível.

O que fazer? Alguém disse: Precisamos de uma máquina. Mas onde encontrar uma máquina as 11 da noite com uma chuva que teimava em cair. Um dos moradores, com sua posande camionete saiu em busca da máquina. Retornou sem ela. O motorista da máquina deveria ter algo mais importante do que auxiliar sua comunidade num momento difícil.

Ficamos nos olhando, sem ter o que dizer, reclamamos e retornamos para nossas bases, nossas residências, alagadas ou quase.

Pensamos... Vamos apelar para os amigos. Ligamos para um, para outro, até que um nos conseguiu os números dos celulares do prefeito e da primeira dama do município.

Sem pestanejar, telefonamos. O primeiro celular estava na caixa postal. Mas a primeira dama estava à postos para atender à sua comunidade. Preocupada com nosso relato ela se disponiblizou a ajudar, dizendo que iria retornar a ligação.

A água já estava na porta, e a esperança veio através do telefonema da primeira dama, dizendo que o secretário de infraestrutura estava a caminho do local e que iria providenciar a tal máquina para abrir as comportas e liberar a água.

A chuva diminuiu um pouco. De posse da notícia, voltamos a nos armar com a enchada e fomos ao encontro dos outros lutadores e ensopados como nós, e deslocamos para esperar o secretário e a máquina.

A parada de ônibus virou uma trincheira. Por momentos resguardava da chuva e do vento. Logo ela ficou cheia de calor humano onde uma dezena de pesoas molhadas e com frio ainda tinham ânimo para brincar e rir da situação.

O secretário em seu bólido branco, singrou as águas da SC 434. Logo atrás, como um tanque que vai para a frente de batalha vinha a máquina e com ela a quase certeza de que as águas começariam a baixar. Feito o serviço.

Para quem não tinha nenhuma máquina, agora aparece uma retroescavadeira, trazida sei lá por quem, mas com certeza com a benção de Deus, para dar fim da barreira de concreto e abrir o valo dando ainda mais vazão para as águas em direção a lagoa.

E a chuva continuava, ora forte ora fraca. Nós todos, ensopados com frio, mas contentes pois havíamos vencido, unidos, a batalha contra a barreira de concreto.

Mas nossas casas ainda estavam com água ou quase. Retornamos, cansados. Depois de um banho quente, as águas já haviam baixado um pouco. De repente uma ambulância parou em frente de casa, ficamos surpresos, mas fomos logo dizendo: aqui tá tudo bem.

Mas a chuva não para. O medo e a incerteza permanece. Vamos ficar de prontidão, com uma nova armadura seca e com a enchada na mão, agora mais protegidos, pois sabemos que temos com quem contar.

OBS: Não citamos nomes de ninguém, pois nessa hora somos todos anônimos, amigos, lutadores garopabenses que tiveram uma noite trágica, mas com ações e emoções que serão sempre lembradas.

ALO Testemunha ocular, sem fotos, só fatos.

Um comentário:

  1. Andre. esta comunidade de gente boa, ordeira e prestativa, lutadora, sempre foi rejeitada pela Prefeitura de Imbituba e tambem por Garopaba...ja q fica exatamente na divisa dos Municipios...parece q nao são SERES HUMANOS, pois entra Prefeito e sai Prefeito e nao fazem nada por esta COMUNIDADE...esta na hora de SOLTAR O GRITO...vamos lá seu Abrão...abram a boca...alias o Luiz é do Partido do seu Abrão se nao me engano..., minha solidariedade a toda a Comunidade.- jader martins.-

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